Them é um grito de desespero no deserto


Amazon Prime/Divulgação

Horror racial inaugurado com Corra! ganha contornos horripilantes

 

 

 

HORROR RACIAL

Em uma das cenas mais chocantes de Them, recém disponibilizada na Amazon Prime Video, uma mulher aparentemente atormentada e três homens aterrorizam uma mãe negra no interior dos Estados Unidos dos anos 1950. Eles tomam o bebê da mulher e promovem uma mórbida brincadeira chamada “gato no saco”. O espectador vai descobrir logo nas primeiras cenas que algo de muito ruim aconteceu com a criança. A cena é chocante, mas a realidade consegue ser mais. Vide o covarde assassinado de três bebês com golpes de espada por parte de um insano em Saudades na terça passada.

 

 

 

 

Them bebe na fonte da realidade inaugurada pelo filme Corra!. O horror racial que teve em O que ficou para trás, da Netflix, mais uma versão horripilante do sofrimento de migrantes negros encontra em Them seu ápice até aqui.

 

 

 

Os anos 1950 exacerbaram a tensão racial depois que leis tentaram aliviar a segregação contra negros. O choque dos que ousavam afrontar os racistas brancos e fazer valer seu direito de estar em determinados locais é uma cicatriz aberta na história dos Estados Unidos. É nesse contexto que conhecemos a família Emory.

 

 

 

Acompanhamos Henry (Ashley Thomas), um engenheiro negro que consegue uma posição de destaque em uma empresa cuja vasta maioria dos empregados dos altos escalões é branca. Por consequência ele se muda com a esposa Lucky Emory (Deborah Ayorinde) e as duas filhas para um bairro igualmente branco. As cenas degradantes de preconceito explícito são tão desgastantes que desanima descrever.

 

 

 

A grande sacada da série de 10 capítulos é colocar no mesmo liquidificador o horror real representado por essa gente branca que se acha superior – destaque para a interpretação impressionante de Alison Pill – e o horror sobrenatural, encadeando as duas com todo o talento de Jordan Pelle, diretor de Corra! que vem ocupando lugar de destaque na busca por conscientizar o mundo da grande dívida que todos temos com a população negra. É uma série que prende a atenção, mas exige estômago para aguentar tanta injustiça. Um grito de horror no deserto da ignorância.





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