Saudosas sessões no Cinema Lumber e Cine Operário


Cinema da Lumber não resistiu a um temporal e veio ao chão em 2013/Clic RBS

Deliciando-nos com esta maravilha que é a Sétima Arte

 

 

O cinema trouxe um encanto diferente às nossas vidas. Longe estávamos das grandes peças teatrais que desfilavam pelos palcos das grandes cidades de então. Mesmo que, eventualmente, uma companhia de teatro aportasse em nossa terra, apenas peças para adultos eram apresentadas nos tempos que rodeavam a década em que aqui cheguei.

 

 

 

Lembro-me da surpresa e das indagações que em minha mente surgiam ao ver aquelas pessoas a se mover e a falar de dentro de uma tela que ficava à nossa frente. Na minha imaginação estariam elas, em carne e osso, atrás daquele paredão, que se estendia de lado a lado, no palco do cinema da Lumber, em Três Barras.

 

 

 

 

Três Barras era o nosso itinerário de alguns domingos de minha infância. Lá moravam os compadres todos de meus pais. Tomávamos o trem em minha vila e a cada vez o almoço era na casa de um deles. E depois do almoço íamos para o recanto encantado que ficava logo ali, ao lado das residências em que eles moravam. Em pleno Quadro da Lumber.

 

 

 

 

Não sei como eu posso ter certeza de que entendia tudo o que se passava naquele paredão à nossa frente…

 

 

 

Do que eu não me lembro mesmo é com que idade eu comecei a me inteirar dos movimentos das pessoas e de suas falas. Dublagens não havia, disto eu tenho certeza. Como eu lia e quando comecei a ler as falas legendadas não tenho lembrança também. Mas sei de alguns filmes que por lá eu vi. Eram próprios para a matinê. Que se escrevia matinée…

 

 

 

Sempre um jornal a contar das coisas “atuais” abria o espetáculo. Sempre o ditador Getúlio e suas realizações, claro! Depois as notícias da guerra. Que o rádio há semanas havia nos contado. Mas ali eram imagens.

 

 

 

E então o que a criançada mais gostava. As aventuras do Donald Duck. Porque não se falava em pato. E eu achava que Duck era o sobrenome daquele Donald. Que dava umas gargalhadas diferentes. Em inglês, claro!

 

 

 

Sempre um seriado de aventuras passava também antes dos filmes. Que eram curtos. Seriados e filmes. Às vezes tínhamos que ir embora, sob protestos, antes do filme acabar, senão perderíamos o trem de passageiros, que sairia da estação de Três Barras, impreterivelmente — se não houvesse atraso —, às dezessete horas.

 

 

 

Mas não há o que se estranhar com a demora naquelas sessões de cinema de antigamente. Sempre havia um intervalo para se comprar balas e o que mais os minguados réis dessem. E além do intervalo principal havia inúmeros outros causados pelo rompimento do celuloide, pela troca de rolos do filme e sabe-se lá o que mais… E a cada súbita interrupção, acendiam-se as luzes e começavam os apupos, os assovios e os gritos dos espectadores…

 

 

 

Quando eu tinha seis anos de idade minha mãe precisou ir a Curitiba porque o meu mano Adolpho, o Fito — que já era aluno interno em um colégio de freiras num bairro longínquo chamado Abranches—necessitava fazer uma amigdalectomia. A clínica ficava exatamente na então avenida João Pessoa, hoje Luiz Xavier. E da janela da sala de espera eu via os anúncios de filmes no Cine Avenida, bem em frente. Estava em cartaz um do Rin Tin Tin, o famoso cachorro-herói daqueles tempos. Não deixei minha mãe em paz enquanto ela não me levou para uma das matinês. Mas lá não tinha tantos intervalos…

 

 

Cine Operário/Arquivo Fundação Municipal de Cultura

Em Canoinhas havia o Cine Teatro Operário. Que ficava na Praça Lauro Müller. E a plateia ficava no mesmo local do salão de baile da velha Sociedade Beneficente Operária. Minhas irmãs e meus irmãos mais velhos iam até a cidade para lá assistir filmes. E depois, ou voltavam a pé para a nossa vila, ou dormiam em casa de amigos.

 

 

 

 

Mas houve um tempo em que fomos morar na cidade. Meu pai ainda trabalhava na Rede Ferroviária e minha mãe foi atrás de mais um sonho. O sonho de ser dona de uma loja de tecidos e armarinhos. E assim dedicar parte de sua vida à arte da costura que ela tanto amava.

 

 

 

 

Fomos morar então na Casa Barateira que ela adquirira de seu Felipe Mansur, um libanês que queria deixar Canoinhas. E a Casa Barateira, loja e casa de moradia nossa, era vizinha de cerca do que chamávamos Clube e Cinema Operário.

 

 

 

Em todos os domingos íamos assistir aos filmes das matinês. Que seguia a mesma rotina das sessões que víamos no cinema Lumber de Três Barras.

 

 

 

Desse tempo já recordo bem o nome dos seriados. Sucediam-se na tela as incríveis aventuras de “Flash Gordon”, “Dick Tracy, o Detetive”, “Os perigos de Nioka”, “O Sombra”, “X-9”, “O Zorro” e muitos outros mais.

 

 

 

Quase sempre um filme de far-west completava a tarde. Entre eles destacavam-se os estrelados por William Boyd no papel do invencível Hopalong Cassidy. A cada domingo uma nova aventura. Não assisti a todos. Mas William Boyd estrelou 75 filmes em 13 anos de carreira. E ainda havia Randolph Scott, Roy Rogers, além dos melados permitidos para menores de catorze anos.

 

 

 

O Ébrio

Havia filmes que passavam apenas à noite. Entre eles “O Ébrio”, com Vicente Celestino e Gilda de Abreu. Que fomos, eu e meu irmão Maurinho, sorrateiramente, assistir através de uma janelinha na cozinha do salão do Operário. Cruzávamos a cerca através de um portão de boa vizinhança. Quando o filme terminava, corríamos de volta para casa. Até que minha mãe e minhas irmãs conseguissem sair do cinema e chegar em casa já nos encontravam, dormindo, como santos, debaixo das cobertas.

 

 

 

 

Alguns filmes que passavam à noite eu poderia assistir. Foi assim com um filme alemão, em branco e preto, que contava a vida do músico e compositor polonês Frédéric François Chopin.

 

 

 

Inesquecível outro com cores azuladas já em mescla com o branco e o preto. “Uma vela na tempestade”, tendo ao fundo, como tema musical o Concerto n º 1 de Chopin, o Opus 11. Aquele navio ao longe, no mar revolto, e uma vela acesa, do tamanho da tela, na última cena não me sai da memória.

 

 

 

Víamos os jornais do cinema mostrando-nos os lances do decorrer da guerra. Eram os tempos da Segunda Grande Guerra Mundial. E a maioria dos filmes tinha como tema os soldados americanos no front.

 

 

 

A glória era quando passavam filmes coloridos. Uma raridade. Embora as fotos para a publicidade viessem em branco e preto, os cartazes em frente ao cinema traziam em letras garrafais as palavras: “Totalmente em Technicolor”.

 

A Malvada

 

Estrelas da época marcaram suas vidas em nossas memórias. Realmente, grandes atrizes. Como a espetacular Bette Davis em tantas películas memoráveis. “A Malvada” foi um grande sucesso de público, de crítica e vencedor de inúmeros prêmios.

 

 

 

 

Em um tempo sem os fantásticos, e até exagerados, efeitos especiais de nossos dias, era incrível ver as peripécias de Errol Flynn como pirata ou herói de outras praias.

 

 

 

Imaginem assistir “Os três Mosqueteiros” com este elenco de escol: Gene Kelly, Van Heflin, June Allyson, Vincent Price, Lana Turner e Angela Lansbury!

 

 

 

E assim passávamos nossas horas de folga. Deliciando-nos com esta maravilha que é a Sétima Arte. Que empolgou e ainda empolga milhões pelo mundo afora.

 

 

 

 

Não é à toa que ficamos agora focados nos filmes, artistas e diretores indicados para receber o maior prêmio do cinema dos Estados Unidos da América, o sempre tão cobiçado Oscar.

 

 

 

 

Para mim, só o fato de uma obra haver sido indicada, já é um prêmio.

 

 

 

Para este ano a bandeja vem repleta de belas e magníficas indicações. Deliciemo-nos em assisti-los.

 





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