Saudação aos novos Imortais da Academia de Letras do Brasil/Canoinhas


Texto lido pela autora na Sessão Solene de diplomação de novos membros imortais da Academia de Letras do Brasil/Canoinhas

 

 

 

 

Esta caravana que hoje, aqui vemos, despreocupadamente, no rumo do infinito, encetou sua caminhada, há não tão longo tempo.

 

 

Percorreu, de início, terras inóspitas. Éramos poucos a integrá-la. Houve aqueles que, aos primeiros obstáculos se renderam. Porque a sede era intensa. E a água, pouca. Retornaram para as suas fontes cristalinas. Mas pedaços de sua passagem entre nós permanecem. Porque foi da união de todos que esta caravana começou as suas andanças.

 

 

Ao longo do caminho novos integrantes a ela foram aderindo. E, e uníssono, entoando o mesmo hino, continuamos a jornada.

 

 

Porque o fim é o mesmo. Porque o ideal que nos une é o mesmo.

 

 

Intempéries não nos derrubaram. E jamais nos derrubarão.

 

 

 

Porque sempre haverá alguém que, lá frente, levantará o nosso estandarte, para que, juntos, sempre, possamos permanecer. Para que não nos percamos pelos ínvios caminhos das escarpas adjacentes.

 

 

 

 

Falo de uma caravana ímpar, uma caravana de idealistas. Idealistas que ousaram, um dia, fundar uma Academia de Letras em nossa região.

 

 

 

Uma Academia de Letras, um templo de cultura. Um sonho acalentado que hibernou em nossos corações por mais de quarenta anos.

 

 

 

Um sonho por mim já contado em outra Sessão Solene nossa.

 

 

 

 

 

“Porque eu já tive um sonho. Nós tivemos um sonho. Era o Sonho. Não sei se o sonho se foi com ela quando ela se foi. Ou, se, mesmo com ela, este sonho teria sido somente nada mais que um mero sonho.

 

 

 

 

Porque éramos um punhado de loucos,

mas éramos poucos, muito poucos,

e os nossos clamores

que então eram apenas vagidos roucos

se esfacelaram ao encontro

de muitos paredões

e de múltiplos muros moucos.

 

 

 

 

Era um tempo em que em nossa imaginação, tudo ao redor, apenas um lindo tapete de poemas seria.

 

 

 

 

E queríamos enfeitar estes poemas com as mesmas cores com as quais o Criador enfeitou a terra.

 

 

 

 

E destes sonhos nossos surgia um Projeto. Um Projeto de Cultura e Arte.

 

 

 

Para que todo este sonho reunido pudesse estar em noite de gala, em noite de estrelas, em noite de talentos.

 

 

 

E foi ela, ela de nome Isis e também Maria, ainda Tack e depois Baukat, ela, a Patronesse da cadeira número 11, a cadeira que ora ocupo nesta nossa Academia de Letras de Canoinhas, ela sim, quem aglutinou as pessoas em torno desta ideia que, em uma noite de gala teria o seu embalo inicial.

 

 

 

E a noite de gala aconteceu. No Clube Canoinhense. Onde poemas afloraram de muitas almas tristes. A noite de gala aconteceu sem ela.

 

 

 

Porque este era o sonho.

 

 

 

Mas aquela noite de gala foi só para homenageá-la porque ela já não mais estava entre nós.

 

 

 

Lá ela estava, sim, como hoje e agora aqui está.

 

 

 

E a Academia de Letras de Canoinhas, há décadas por nós sonhada, desvaneceu-se também com a partida dela.

 

 

 

 

Teria vicejado? Não saberia dizê-lo. Eram tempos diferentes. Eram tempos difíceis. Tempos em que poemas eram queimados, tempos em que poemas eram rasgados, tempos em que poemas eram jogados em sarjetas, tempos em que poemas eram atirados em latas de lixo pela incompreensão de um mundo que neles não via e neles não sentia o capital.

 

 

 

 

Era um tempo em que alguns, que pouco ou nada escreviam, espezinhavam os que tinham menor poder de voz e então, poemas de fundo, magníficos poemas foram atirados para o meio do lodo que margeava a vida.

 

 

 

Era um tempo e era um mundo que enterrava poemas entre pedras e cinzas para que fenecessem no tempo.    

 

 

        

Mas os poemas eram fortes e, qual flor de lótus, que do lodo sempre emana e sempre viceja, os poemas submersos afloraram e começaram a ser entoados e começaram a ser cantados em todos os cantos de nossa Santa Cruz terra.

 

 

 

 

E todas aquelas flores de lótus aglutinaram-se, todas aquelas flores de lótus juntaram-se a muitas outras flores, em um imenso jardim. Jardim repleto de muitas, imensas, variadas e coloridas flores que eu espero ver vicejar sempre mais, qual flor de lótus, emergindo cada vez mais e mais bela das profundezas dos lodaçais que por décadas as submergiram.

 

 

 

 

E porque foi num repente que de poemas a terra nossa foi tomada. E porque multiplicaram-se os poemas e porque multiplicaram-se as vozes que ovacionaram os poemas e porque multiplicaram-se as mãos que aplaudiram os poemas que possível foi agregar esta plêiade que hoje é a nossa Academia de Letras do Brasil de Canoinhas.”

 

 

 

E hoje, neste século, neste ano, vicejando está, de todas as formas.

 

 

Com estudantes de inúmeras escolas de nossa terra participando de concursos literários por ela promovidos.

 

 

 

 

 

Com estudantes de inúmeras escolas de nossa terra participando de um Festival Literário Estudantil, por ela promovido.

 

 

 

Com nossos acadêmicos participando, ativamente, da vida literária da cidade e além. Proferindo palestras. Recitando poemas. Lendo seus textos. Novos livros foram publicados. A região estampa a nossa arte.

 

 

 

E eis vocês aqui, hoje, integrando a nossa caravana.

 

 

 

 

E eis vocês aqui, hoje colocando armas e bagagens em seus ombros para acompanhar-nos pelos dias que virão.

 

 

 

E eis vocês aqui, hoje, prontos, envoltos em suas togas, o casulo que os encobre, o casulo que os acolhe, demonstrando ao mundo que alcançaram uma posição entre as pessoas de letras, colocando-os ao lado dos escritores de nossa região, dos escritores da Academia de Letras do Brasil/Canoinhas.

 

 

E eis vocês aqui, hoje, com o seu diploma de Membro Imortal desta Academia de Letras.

 

 

 

 

E eis vocês aqui, hoje, prontos para fazer parte desta caravana, desbravar caminhos, abrir fronteiras, cativar o iletrado.

 

 

 

 

De São Matheus do Sul temos a alegria de receber em nosso meio um escritor que já chega laureado, que já chega premiado pela sutileza de seus contos e seus textos. Adnelson Borges de Campos faz-nos rememorar as nossas mais lindas e doces noites de Natal, encurrala-nos em histórias surrealistas e de mundos paralelos. Com sua experiência em administração, tenho certeza de que será um dos alicerces de nossa congregação acadêmica.

 

 

 

 

A arte literária jamais poderá se alijar da poesia popular, pois ela é, segundo o escritor cearense Júnior Bonfim, “o filete natural, fonte cristalina, representada dentre outros pelo Mestre de Cordel, Lucas Evangelista e, caminha de mãos dadas com a mais apurada erudição dos poetas maiores”.

 

 

 

Penso que o Ari, que hoje aqui se encontra, já é companheiro semanal de muitos de nós com suas poesias inseridas em nosso “Correio do Norte”, jornal. Ari Carlos Ferreira dos Santos, o Arcafes, poeta nato, frequentador assíduo da Casa do Poeta, no Lago da Ordem, em Curitiba, onde comunga a sua arte com uma miríade de outros, que, como ele, amam poetar. Ari, temos certeza que você será um dos novos centuriões de nossa Academia.

 

 

 

Seu imenso amor pela leitura fê-lo dividir esta paixão com adolescentes ávidos que, semanalmente, o acompanham em dissecções de novos livros. Seu Clube de Leitura “Dimensão Paralela” tem aglutinado alunos em torno dele.

 

 

 

 

Dione Grei da Cruz não se limitou em ser professor de letras e língua portuguesa apenas nos dias e horários letivos. Fez de sua casa uma continuação das salas de aula por onde peregrina ensinando a arte de ler, interpretar e escrever. Tece palavras que atravessam imaginários portais onde joga poemas em prosa, mostrando o místico do seu eu. “Como é difícil colocar-se em palavras… Falar sobre o que você sabe a seu próprio respeito. Eu apenas suspeito quem sou.” Assim, sobre si, expressa-se Dione. Não por acaso publicou “Confusão”, onde nos deleita com suas elucubrações. Tenho certeza de que “Dimensão Paralela”, seu clube de leitura, será uma das alavancas de nossa Academia de Letras.

 

 

 

 

Sempre ligado à arte literária, como exímio declamador dos poemas e odes de nossos poetas maiores. Escrevendo da arte que lhe é tão cara, o seu trabalho nos campos, demostra um estilo de escritor já consumado. Ou com um banquinho e um violão levando sua voz para todos os cantos. José Alfredo da Fonseca, hoje, aqui está, para fazer parte desta nossa caravana. Será alguém de muitas facetas a integrar a comitiva.

 

 

 

 

Vindo das terras desbravadas, que primeiro viram tropas e tropeiros a trafegar de norte a sul, e de sul ao norte, tangendo o gado e descobrindo a erveira que faz o bom chimarrão, a Papanduva de tantas tradições, traz em seu bojo a semente antiga da arte de escrever. Laucio Evaristo, cubra esta Academia com o mais alvo linho que teces em teus teares. E que venham outras Arletes, e que por outras novas Escócias possamos viajar através de tua pena. Temos certeza de que, nossas letras e nossa cultura encontraram um semeador de escol, um semeador premiado e laureado, para disseminá-las.

 

 

 

Poderá parecer, para muitos, um fardo, participar de uma Academia de Letras. Mas para quem é amante das letras, reunir-se com seus pares, em alguns poucos dias do ano, é uma das maiores benesses que a vida pode nos proporcionar.

 

 

 

Eram estas as minhas palavras, um tanto inusitadas, de boas-vindas ao nosso meio, ao nosso tugúrio, aos nossos rituais, às nossas conversas, muitas vezes totalmente informais, que eu queira dizer a todos vocês, nobres novos imortais integrantes de nossa Academia de Letras do Brasil/Canoinhas.

 

 

 

Sejam todos muito bem-vindos! Parabéns! Sucesso! E que muitos novos livros possamos, doravante, colocar em nossas estantes.

 

 

 

E que esta Academia tenha um longa e frutífera vida, angariando mais escritores para juntar-se a nossa caravana!

                                                           

           

 





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