O povo brasileiro – vida paradoxal


“Amor é fogo que arde sem se ver;(…) É ter com quem nos mata lealdade.”

(Camões)

 

Mas afinal, o que é paradoxo? Segundo Nicola e Terra (2006, p.163), é uma proposição formulada em aparente contradição com o senso comum, soando, num primeiro momento, como um absurdo, um disparate. Se a antítese se manifesta na oposição de palavras, o paradoxo se manifesta na  oposição de  conceitos. O caso do povo brasileiro torna-se exemplo gritante de existência exclusivamente paradoxal diante dos inexplicáveis e incoerentes descompassos de gestão, oriundos das deformações causadas pela vaidade, pela prepotência, pela dilapidação do patrimônio público, sempre em favorecimento a interesses pessoais ou de grupos, que retribuem sob a forma de apoio, geralmente financeiro, a candidatos a cargos eletivos, para que o ciclo de poder se perpetue. Mas, e o povo? E as pessoas de bem? E as necessidades e prioridades sociais? Quem se preocupa com a massa, com as famílias, velhos e crianças? É o grande paradoxo nacional, indescritível, monstruoso, quase invencível e devastador. Inicia sua atuação no desproporcional processo arrecadador e encerra com o grande final das eleições gerais. Quanto custa a democracia, afinal? Outro paradoxo visível é o que se diz perante o que se faz, e o que se “planeja”, quase sempre em contradição com o que se realiza ou se deixa de realizar, sempre trazendo prejuízos incalculáveis às esperançosas multidões de brasileiros.

Outro paradoxo é aquele tão propalado da infraestrutura nacional, desprovida de planejamento, antiquada, com modal logístico único, que sobrecarrega as rodovias nacionais, colocando em risco tanto os valores transportados quanto os seres humanos em trânsito nessas “roletas russas” denominadas “estradas” que existem país afora. Se houver análises de outras alternativas, pode-se ver que aeroportos, portos e ferrovias enfrentam problemas cruciais e de difícil solução em curto prazo. Isso tudo sem entrar no mérito de questões tais como saúde, educação, saneamento, carga tributária, segurança e tecnologia da informação.

Será que somos e seremos sempre um país paradoxal? Com rumos indeterminados e sempre cabisbaixos diante dos inflamados discursos ufanistas e eleitoreiros que desafiam a inteligência dos cidadãos com discernimento?

O Brasil precisa realmente livrar-se das amarras desse círculo vicioso denominado “politicagem” e participar ativamente dos movimentos representativos realmente populares, deixando de lado as influências do paternalismo com viés ideológico, mudando a postura clientelista e adotando um posicionamento mais rígido e vigilante com relação à centralização do poder e à distribuição de recursos arrecadados. Um novo pacto federativo é mais que necessário, e a reforma política já ultrapassou os limites de tolerância do povo brasileiro.

Quem se habilita a fazer essas reformas? Quem está preparado para conduzi-las? Eis a questão.





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