Na Itália dos meus sonhos


Foto: San Remo/www.esl-languages.com

A emoção de estar seguindo em direção à Itália, à terra de meus avós, foi tomando conta de mim já desde o embarque no trem de alta velocidade que, partindo de Nice, na Riviera Francesa, nos deixaria em Roma.

As estações e as cidades da Riviera Italiana se sucedendo. Entre tantas, San Remo, famosa por sediar o maravilhoso Festival da Canção no qual, no ano de 1968, a música vencedora foi “Canzone per te”, composta por Sérgio Endrigo e Roberto Carlos Braga, o nosso Roberto Carlos.

girassoisE o trem, em altíssima velocidade, atravessava campos de girassóis, infindáveis campos de girassóis que, pelas imagens captadas por nossas elementares câmeras, através das vidraças, mostravam apenas rios amarelos e verdes para nos lembrar do encanto daquele espetáculo.

Atravessamos Gênova, o porto de Gênova, que parecia não mais acabar. O porto de Gênova, de onde Colombo partira em busca de um novo mundo. Porto de Gênova, de onde partiram meus Nonnos, em busca de nova vida. Porto de Gênova, onde embarcaram tantos e tantas no vislumbre de uma nova esperança.

Imenso cais com navios enfileirados para aportar, com navios enfileirados para partir … e o olhar se perde no horizonte ao longe … no mar … vendo passar pelas memórias desconhecidas o coração partido dos que deixaram a terra natal em busca de um amparo para as suas quebradas vidas.

No decorrer da viagem toda fomos conhecendo muita gente que em nossa cabine se acomodava também. Que entravam em uma cidade. Que logo desciam em outra.

Mas um novo amigo embarcara já em Monte Carlo e conosco ficou durante quase todos os dias em que em Roma permanecemos. E ainda, durante a viagem, apontava cantos e recantos e, em detalhes, explicava o que se via e o que não se via.

Então chegamos a Roma. E, apesar de um dia todo viajando, não havia estafa. E ao desembarcar eu já ia ouvindo aquela algaravia tão minha conhecida.

Como sempre, a cada desembarque, primeiro a busca por uma casa de câmbio, pois trocar a moeda era preciso. E a busca por uma tenda de turismo, pois um hotel também era preciso. A poucas quadras da estação de Roma Termini localizava-se um bom hotel, recomendado e já conhecido de nosso novo-amigo-cicerone, no qual também ele ficou.

Eram sete horas passadas do meio-dia quando pegamos nossa bagagem e deixamos o trem. Era pleno dia ainda, com tempo para um belo passeio, o meu primeiro passeio em terras italianas. E, como não poderia deixar de ser, conhecer a Fontana de Trevi e em suas águas jogar as três consagradas moedas, fazendo aos céus e aos deuses ali entronizados os pedidos guardados na alma.

Fontana/groupon

Fontana/groupon

E próximo, muito próximo da Fontana famosa, uma Trattoria; uma efervescente Trattoria onde pude, então, apreciar um saltitante espaguete al sugo.

Na Itália nada era diferente daquilo que, desde a minha infância, em minha memória eu trazia. Costumes, cultura, música, língua e culinária, tudo estava já, ancestralmente, dentro de mim.

Se chorei? Muito, de emoção, sim!

Aquele sabor de Itália e aquele aroma vindo da especial cozinha fizeram vibrar em mim todas as papilas gustativas e as mais escondidas células da alma.

A língua era diferente? Sim, diferente da dos países cujos caminhos já havíamos trilhado. Mas era a língua dos meus maiores. E, infelizmente, naqueles dias, pouco dela eu entendia. Não havia, ainda, feito o curso de língua italiana da nossa “Bella Italia”, daqui de Canoinhas. Mas o latim que eu aprendera na adolescência ajudava muito, junto com aquele pouco de italiano que minha memória guardara e que era falado em minha casa até o dia em que proibido foi devido à Segunda Grande Guerra Mundial.

Amanhecer em Roma e saborear um belo café da manhã com o sabor dos cafés da manhã de minha casa. E a ouvir as canzonetas que embalaram minha infância.

Nosso novo-amigo-cicerone foi incansável. Conduzia-nos, mostrando-nos e explicando cada passagem pelos caminhos de Roma.

Coliseu de Roma/ultradownloads

Coliseu de Roma/ultradownloads

E assim corremos pelo Capitólio e Coliseu, pelas ruínas do Forum Romano e Panteão, pela Piazza Navona onde se localiza o maravilhoso palácio que sedia a Embaixada do Brasil, além de admirarmos um número sem fim de fantásticos monumentos espalhados pela cidade toda como se Roma fosse um imenso museu a céu aberto.

Por mais que lido eu tivesse, por mais ilustrações que visto eu tivesse, por mais filmes mostrando imensas passagens pela cidade eterna que assistido eu tivesse e por mais que quem por lá passou, muito já me falado tivesse, nada foi igual ao que eu lá vi e ao que eu lá senti.

É muito diferente colocar os nossos próprios olhos naqueles históricos locais que marcaram a civilização ocidental.

E assim passamos o dia, arregalando os olhos deslumbrados com este mergulho na história e com o paladar impregnado pela comida italiana saboreada em nossas andanças pelas Trattorias.

E finalizamos este nosso primeiro dia em Roma com o espetáculo noturno das envolventes escadarias da Piazza di Spagna, beliscando novos sabores oferecidos ao ar livre, ouvindo música e vendo o mundo ali reunido a dançar.





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