Fantasmas dançantes das noites junto ao mar…


Histórias tristes de amores perdidos nas encostas das montanhas encantadas

 

 

As ondas continuam a bater na praia com seu ritmo em mais uma insone madrugada que não se cansa de ser insone, que não se cansa de ser madrugada.

 

 

Fantasmas dançam entre as ondas, fantasmas dançam entre a fina névoa que se forma quando, na areia, furiosamente, batem as águas que o mar joga sem cessar. Fantasmas dançam em meio às palmeiras, que dançam em meio às luzes, que em meio delas dançando se infiltram.

 

 

Os meus fantasmas têm histórias para contar. Histórias tristes de amores perdidos nas encostas das montanhas encantadas. Histórias de fadas de um tempo de sonhos os meus fantasmas têm para contar.

 

 

 

 

Vultos brancos que se enroscam, voluptuosamente, por entre as fímbrias das palmeiras, tangendo-as como se fossem violinos trazidos das lendas ciganas. Sons que embriagam os sentidos na ciranda de uma dolorida saudade são os sons que destas cordas invisíveis eles tiram para a dor dentro da alma se alastrar.

 

 

 

Deslizam pelas cristas das ondas os meus fantasmas. E sobre as ondas e pelas ondas somem para longe, parecendo perder-se na distante linha do horizonte onde o breu da noite confunde céu e mar.

 

 

 

Lembram-me os meus fantasmas de tempos de ternura, de tempos de enlevo, onde sonhos se enleiam e se mesclam com memórias entorpecidas. Nebulosas memórias que navegam entre minúsculas e tênues linhas que ignoram os limites entre o concreto pensar e o absoluto abstrato de um mundo que as névoas do agora tornam mais distantes.

 

 

 

 

O pensamento pulsa com a vertigem das águas, que impetuosamente retornam em ondas para a praia e sobre elas, dançando, equilibram-se os meus fantasmas numa dança que não cessa de ser dança, numa dança que não cessa de marulhar.

 

 

E neste malabarismo sobre as ondas, sobre as águas, névoas invadem o ar que me rodeia. A saudade povoa minha alma no instante em que o mar entoa seus nostálgicos sons e confundem-se as lágrimas salgadas que de meus olhos rolam com a bruma que esvoaça pelo ar.

 

 

 

Pergunto aos meus fantasmas se seria de saudade esta lágrima quente e úmida que insiste, de meus olhos rolar, em todas as horas de meu estranho viver? Mas meus fantasmas, com seus olhos tristes, apenas sorriem para mim. Seria ela, a saudade, que traz estes fantasmas para dançar em minha frente, em perambular em meus sonhos de olhos abertos, nos momentos todos de meu diário caminhar?

 

 

 

Seria de dor esta lágrima quente e úmida que não cessa de rolar? Seria ela, a dor que flui do fundo de meu mais recôndito eu, tão impetuosa, que vislumbrar-me faz nas etéreas linhas que se entrelaçam entre os troncos das palmeiras, entre as ramagens das palmeiras, entre as fímbrias das palmeiras, os finos fios de água do mar que os fantasmas fazem rolar em sua dança sobre as ondas?

 

 

 

Os fantasmas em sua dança nas águas revoltas deste mar são apenas a saudade que dentro de meu coração fez morada.

 

 

 

E os fantasmas etéreos e que apenas como se de brancos fios fossem vestidos, movem-se agora entre as fímbrias, entre a folhagem com as cores do arco-íris enfeitando os envoltórios de seu tênue viver. Movem-se entre as ramagens como se em cada espaço, em cada fibra estivessem impregnados os momentos todos que em êxtase foram vividos.

 

 

Como se o amor, de dentro das fímbrias das palmeiras, sorrisse para mim com aquele seu jeito giocondano de sorrir… Como, se através da pálida luz que de um longínquo lampião se infiltra entre os ramos das palmeiras o amor me desse um adeus, cantasse, com sua linda voz, melodias que transmutam pessoas em deusas, como se de lá lesse seus lindos poemas…

 

 

 

Ah! Os poemas do amor dependurados em todos os ramos destas palmeiras plantadas junto ao mar. Poemas, que se desprendem das fímbrias das palmeiras, poemas infiltrados em cada gota de orvalho que brilha aos raios do sol de cada manhã…

 

 

 

 

Poemas que são folhas, poemas que são fímbrias, poemas que são ramagens, que são palmeiras… que nascem e renascem após uma noite carregada de brumas do mar… que invadem este meu imaginário palmeiral em cada novo dia.

 

 

 

Poemas que se difundem nesta minha verde mata, talvez tão verde quanto a esperança de um dia vislumbrar outra vez este meu abstrato fluir de ideias, entre os ramos, entre as fímbrias, entre galhos caídos que se espalham pelo chão que as ondas do mar vêm varrendo pelas horas todas que atravessam as noites tristes da alma.

 

 

E o instante que era o agora e se foi, retorna. Porque para os meus fantasmas todas as danças são as danças das horas.

 

 

 

Ah! Os poemas de meu tão desesperado amor. Os poemas derramados em angústias pelas insones madrugadas em que sua alma se debatia em busca de um alívio para seus controvertidos pensamentos. Poemas que sua abstrata alma sofria ao encontrar o concreto dia bater em sua janela. Poemas que traduziam as ferrugens soçobrantes dos espasmos depressivos que marcaram o seu viver.

 

 

 

O amor ali, sangrante, em meio aos fantasmas que dançam em uma eterna dança que não cessa de ser dança e que não cessa de sangrar. Ah! Os poemas do amor que entre as sombras deixava fluir seu místico sorriso em meio às ilusões.

 

 

 

 

E o amor veste as palmeiras rente ao mar com seus poemas envoltos em brumas. Embebem-se com místicos raios que as névoas transpassam. E o momento mágico brilha ante o meu absorto olhar. Os fantasmas quedam-se, inertes ante a grandiosidade do instante que agora se estende no espaço entre as palmeiras, o mar e o infinito. Parecia-me que sorvera todas as cores de um arco-íris misterioso e envolto nele, e com ele, torna-se iridescente e diáfano como se todas as divindades estivessem a seu lado.

 

 

 

Eu sempre soube, bem no mais profundo de meu âmago eu sempre soube, desde os tempos mais remotos, em que ao olhar as revoltas ondas do mar e uma translúcida luz a transpassar as ramagens de uma palmeira eu sentia uma saudade sem razão, uma saudade de um tempo bom já vivido…

 

 

 

 

Eu sempre soube, desde o princípio eu sabia, que entre aquelas fímbrias que descem como águas luminosas das ramagens esverdeadas, quase diáfanas, quase irreais das palmeiras, era o amor que o meu olhar magnetizava, que a minha alma atraía.

 

 

 

 

Fantasmas que a mente de imagens povoa em mistura sutil de paixão e saudade. Fantasmas que dançam entre as sombras, entre as ramagens, entre a luz diáfana que de um distante lampião se embrenha entre as fímbrias esverdeadas que a noite envolve.

 

 

 

Fantasmas que se formam entre as ramagens que dançam ao sabor de um vento que não cessa de ventar. Fantasmas que dançam entre as fímbrias dançantes das palmeiras, entre as luzes dançantes da beira d’água, entre as sombras dançantes, transformaram o meu eu neste imenso mar salgado impregnado de um dilúvio de lágrimas de saudade.





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