Fantasmas dançantes das noites de chuva…


A chuva continua o seu ritmo em mais uma insone madrugada que não se cansa de ser insone, que não se cansa de ser madrugada.

Fantasmas dançam entre as sombras, fantasmas dançam entre a chuva, fantasmas dançam em meio às árvores que dançam em meio às luzes que em meio delas dançando se infiltram.

Os meus fantasmas têm cores, os meus fantasmas têm sons, histórias os meus fantasmas têm. Meus fantasmas lembram cirandas de um tempo de sonhos.

Nebulosas são as memórias que circulam entre as tênues linhas que separam a concreta consciência do absoluto abstrato de um reluzente mundo que se fez distante apenas na névoa do tempo. De um reluzente mundo que aqui eu vejo e sinto tão nítido nos momentos todos em que os sons do meu enlevo só lágrimas vertem no acalanto da hora.

É de saudade esta lágrima quente e úmida que escorre? Não sei se ela, a saudade é que me faz ver estes fantasmas que insistem em perambular pelas névoas de minha mente brincando comigo nos momentos mais diversos de meu diário caminhar.

É de dor esta lágrima quente e úmida que escorre? Seria ela, a dor da alma tão intensa que vislumbrar me faz nas etéreas linhas que se entrelaçam entre os troncos das árvores, entre os ramos das árvores entre os fios finos da chuva que escorre entre as árvores?

E estes fantasmas a perambular ante os meus olhos tristes me olham.

Seriam olhos de gatos que brilham no escuro entre as árvores, entre os finos fios da chuva que cai? São gotas de chuva que dançam e brilham na dança que a alma não cansa de olhar?

Mas os fantasmas são apenas as lembranças, são apenas a saudade que dentro de minh’alma habita.

São coloridos fantasmas que se movem entre estas ramagens, entre estas folhagens, como se em cada ramo, como se em cada folha impregnados estivessem os momentos vividos todos em êxtase, em alegria, em felicidade.

Como se o amor de lá acenasse, sorrisse, cantasse e contasse … Ah! Os poemas do amor espalhados em cada folha, em cada gota de orvalho desta minha imaginária floresta que nasce e renasce em cada noite de chuva… Nesta tão verde floresta quanto a esperança de ver este abstrato livremente fluir entre os ramos, entre as folhas, pelo chão onde escorrem estas águas que do infinito emanam nas noites tristes da alma.

Ah! Os poemas de meu pobre amor, de meu tão maltratado, tão vilipendiado, tão sofrido, tão enterrado amor dentro de sua abstrata alma corroída nos espasmos depressivos que a sua vida envolveu.

O amor ali, sangrante, entre as sombras deixando fluir seu místico sorriso em meio às ilusões.

E o amor veste as árvores com seus poemas envoltos em neblina. Impregna-se com os raios luminosos que as névoas atravessam. Absorve-os, torna-se diáfano e reluzente num misto de todas as cores apreendidas de um arco-íris misterioso que o seu todo envolveu.

Ah! Então eu sabia. Desde o começo era ele, ele, o amor que atraia o meu olhar, a minha alma, para aquelas ramagens multicoloridas, irreais, diáfanas imagens misto de fantasmas e paixões que ao se formarem entre as folhas dançantes, entre as luzes dançantes, entre as sombras dançantes fizeram o meu eu transformar-se neste imenso mar salgado carregado com  tantas lágrimas de saudade.





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