E depois da névoa… o ponto de luz!


ADAIR 2Sempre haverá um tempo de névoas nos olhos. Névoas que turvam a visão do mundo, a visão da vida. Opacos cortinados ofuscando paisagens, ofuscando luas, ofuscando amores…

Imiscuir-se neste fantasmagórico espaço em que todas as vidraças são fumacentas, em que luzes tornam-se opacas e pensar que o possível de se ver o claro, o límpido outra vez é mais palpável que o palpável de mãos que se afagam, parece apenas um sonho.

Não é uma viagem ao desconhecido. Não é uma viagem para o sem volta. Não é um ponto sem retorno.

E sempre com a esperança de que as luzes retornem ao brilho de antes, enceta-se uma jornada que em algumas horas nos deixará em um mais nevoento, inimaginável e belo mundo.

Uma necessária névoa para que se adentre num microscópico mundo, o mundo atrás das cortinas, atrás das luzes, atrás do palpável.

Infiltrar-se à procura de um ponto diferente, de um ponto estacionário que ficou no ostracismo, de um ponto que estagna o mundo em frente aos olhos.

Névoa que chega depois da gota, da pequenina gota da beladona, a gota da planta que abre as janelas dos olhos, a gota que faz a menina dos olhos, a pupila dos olhos a cada segundo aumentar seu diâmetro, aumentar sua área.

Suaves melodias impregnam aquela atmosfera e o alçar asas através delas e com elas torna o tempo um brinquedo. Sentada ali, à espera, rabiscos sob a névoa vão fluindo no papel até que nada mais esteja visível, até que a caneta já não encontre mais a trilha e só um emaranhado de letras justapostas pose como artista principal.

E então aguardar. Até ouvir seu nome. E pelas mãos de alguém transpor corredores. E pelas mãos de alguém ir de sala em sala. E pelas mãos de alguém acomodar-se nos mais diferentes assentos.

E depois, pela voz de alguém, colocar a face e o queixo e firmar os olhos em anteparos e suportes que se ajustam às medidas do seu eu.

E então um outro mundo se descortina. Um mundo de ofuscantes luzes, que aparecem apenas para delinear aquele nevoeiro que já vivenciara todas as cores, todos os tons, todas as formas e todos os sentidos.

Um mundo de luzes ofuscantes que entra no âmago fazendo os neurônios sibilarem pela dor. Mas elas, as luzes, são lindas. As luzes dançam. E se entrelaçam naquele espaço quase diabólico em frente aos olhos. Não é uma dança macabra. É psicodélica esta dança, este balé de luzes e cores. Linhas retas paralelas, perpendiculares e diagonais se entrecruzam em todas as direções, alternando todas as cores de um arco-íris inteiro, sem se preocupar em seguir os tons progressivos deste arco. E um violeta quase róseo mesclado ao verde das folhas das árvores que lá fora balançam ao vento são as cores dominantes.

Num piscar de olhos as retas nem mais retas são. Transformam-se em círculos concêntricos e não concêntricos, em espirais, em linhas curvas que se perdem no infinito sem jamais cessar sua dança das cores.

Ainda há um firmamento repleto de todas as constelações e outras mais que se formam a cada micro-segundo como se fossem a aglutinação de miríades de estrelas num frenesi espetacular de brilhos e luzes faiscantes e tremeluzentes.

E, assim, de sala em sala, de aparelho em aparelho, de exame em exame, mãos e vozes nos conduzem pelos espaços, pelos corredores.

E atrás das luzes e com as luzes e através das luzes que atravessam lentes, que atravessam vidros… começa a ser decifrado o enigma da névoa que se formou antes, muito antes da névoa que a gota originou.

Para deletar o enigma, mãos nos levam por outros corredores, para outras salas e para um último aparelho.

E em segundos, através de luzes e lentes, mais um pedaço opaco é estilhaçado por estas mãos que já tantas visões restabeleceram.

Luzes e lentes de um privilegiado cérebro que a cada dia com mais luzes decifra os enigmas de viventes envoltos em névoas. Luzes e lentes de um cérebro que não se cansa de procurar na pesquisa e no aperfeiçoamento a melhor qualidade de visão aos humanos seres que sentem esta deficiência a lhes toldar a vida e a lhes tirar pedaços de imagens que ficaram perdidos nos espaços abstratos e escuros do tempo.

***

Mas, esta evolução, a cada dia mais impregnada em nossas vidas, não chegou em um passe de mágica. Cérebros privilegiados foram se debruçando noite após noite, dia após dia, em cima de pesquisas e mais pesquisas para que se chegasse aos sofisticados aparelhos que hoje transformam em belíssimos horizontes as nevoentas paisagens que antes se descortinavam a nossa frente.

O mais importante ainda é o saber que de nada valeriam estes anos todos de pesquisas para remodelar as nossas vidas se atrás destes artefatos todos não existisse outra mente excepcional que não se cansa de procurar a cada dia mais conhecimentos em prol da melhor visão.

Porque não é o aparelho que transforma a vida. Não ele, ali, sozinho. Não é um mero botão que se aperta ou que se ajusta para que as cortinas se abram e o cenário do mundo possa ser vislumbrado em toda a sua beleza.

Preciso é que ali esteja a pessoa que sabe o que faz, que se especializou, que doou a sua vida por uma límpida visão do mundo.

Esta pessoa, para mim, tem um nome.

Eu espero que o Dr. Mário Junqueira Nóbrega (*), possa também encontrar outro alguém assim como ele para que a sua visão do mundo continue sendo tão extraordinária e bela como aquela que ele tantas vezes fez retornar a um incontável número de seres que, sem ele, estariam hoje no estranho mundo das névoas obscuras.

 

(*) Dr. Mário Junqueira Nóbrega.

Médico Oftalmologista.

Hospital de Olhos “Sadalla Amim Ghanen”.

Professor Doutor da Cadeira de Oftalmologia.

Universidade da Região de Joinville.

 

 

 

 





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