Dissecando a Riviera Francesa (II)


Foto: Cassino de Monte Carlo/sitedecassino.com

 Desde Lisboa e a seguir, de cada cidade por onde eu passava ia enviando um cartão postal para minha mãe, para minha família e para alguns amigos. Seria a minha maneira de registrar a viagem para os outros, ao mesmo tempo em que dava notícias, embora estas notícias levassem intermináveis dias para aqui chegar, mesmo postando tudo via aérea.

E cada cartão era escrito, selado, carimbado e enviado dos locais por onde andei.

Levara comigo um rolo de etiquetas gomadas nas quais, ainda em casa, eu escrevera, a mão, claro, os endereços e nomes de todos os destinatários. Devo ter enviado quase duzentos cartões postais da Europa naqueles dias todos em que por lá passei. Era só rabiscar qualquer coisa, qualquer fato, colar a etiqueta e o selo e colocar dentro de uma caixa de coleta do correio, ou mesmo deixar na recepção dos hotéis.

Então, uma das primeiras tarefas, em cada cidade onde aportava, era adquirir cartões postais e providenciar os selos. Foi assim que passei muitas horas agradáveis escrevendo em cima de mesas que ficavam nas calçadas defronte a bistrôs, trattorias, lanchonetes e congêneres, rabiscando meus cartões, enquanto saboreava um café, uma cerveja, uma taça de vinho, um suco ou um frapê e observava o mundo a desfilar ante os meus olhos.

Em nossa última manhã em Nice descobrimos que nossa bagagem aumentara demasiadamente em peso e volume. Era um acúmulo de novidades adquiridas, lembranças, presentes, mapas, roteiros de viagem. A esta carga extra anexei roupas e calçados que estavam se tornando inúteis em nossa jornada e a tudo acondicionei em uma reforçada caixa de papelão que depois de devidamente embalada, empacotada e endereçada foi despachada via Correio de Superfície para minha casa. Bem mais em conta que se fosse via aérea.

Nice, na França/www.worldstudy.com.br

Nice, na França/www.worldstudy.com.br

Tomamos então o rumo do encantado e pequeno país vizinho de Nice, o famoso principado onde a então atriz de Hollywood, Grace Kelly, deslumbrou o príncipe enquanto “Ladrão de casaca” estava sendo filmado. E para lá depois ela voltaria já como Sua Alteza Sereníssima, Princesa de Mônaco.

Percorrer um país inteiro um pouco em ônibus e um pouco a pé, no decorrer de uma tarde apenas foi o inusitado quase difícil de crer.

E foi o que fizemos, parando, como sempre, em um bucólico bistrô para carimbar nossa passagem em um cartão postal com o selo de Mônaco.

A moeda continuava sendo o franco francês e a mesma língua francesa ali era a dominante.

Eu imaginara alugar um carro para fazer todo o percurso onde correm os bólidos no charmoso Circuito de Fórmula Um de Mônaco. Mas logo deu para perceber que não seria possível porque o traçado engloba muitas ruas e avenidas de mão única com as placas de trânsito indicando as mãos e as muitas contramãos em sentido inverso à rota do circuito. Mas, em ônibus passamos pelo túnel, pelo Cassino, pelo Hotel, pela Marina e pela famosa curva em U, a famosa curva Mirabeau.

Percorremos toda a costa do país às margens do Mediterrâneo, que, entre penhascos, praias e porto não tem mais de três quilômetros.

Do alto das encostas vislumbramos o mar e a marina com a sua imensidão de iates nela enfileirados. Iates ali dormindo ou fazendo girar motores e hélices para alcançar o alto mar carregado de ilhas cheias de lendas e fantasias.

E quando já estava chegando o crepúsculo do entardecer olhamos o sol a se por atrás dos Alpes ou, conforme os contornos da costa, em pleno mar …

 Para completar o passeio ao encantado principado, como não poderia deixar de ser, fomos conhecer o famoso Cassino de Monte Carlo. Paredes e tetos cobertos de arte, de trágicas histórias, de milionários relâmpagos, de bancarrotas fantasmagóricas.

Cassino de Monte Carlo, palco de milhões de dramas reais e cenário de milhares de tragédias e contos de fadas que a imaginação de muitos escritores criou para serem lidos ou para serem vistos nas telas dos cinemas.

Cassino de Monte Carlo, onde deixamos alguns francos nas cativantes, insinuantes e sedutoras máquinas caça-níqueis.

Cassino de Monte Carlo, onde melodias extasiantes executadas por fabulosas orquestras enchiam salões de sonho e faziam com que nossos pés, como se por forças magnéticas atraídos fossem, lá dentro aderidos ficassem.

Cassino de Monte Carlo, com iguarias oferecidas em um menu dos deuses para ainda mais cativar seus frequentadores.

Já era madrugada quando retornamos, deixamos a gare de Nice e fomos caminhando pelas ruas em direção ao nosso hotel.

E na madrugada de Nice eu vi as ruas sendo varridas e lavadas por máquinas especiais.

E na madrugada de Nice eu vi operários em máquinas pintando nas ruas reluzentes faixas de sinalização. E iam desenhando em amarelo e branco, em todas as esquinas faixas transversais, diagonais, perpendiculares e o limite de velocidade gravado ali no chão. Tudo limpo, tudo faiscante, com sinalização vislumbrada à distância …

  … trabalho executado na noite e na madrugada para que o dia a tudo encontrasse pronto e o trânsito fluir levemente pudesse.

 No outro dia a jornada seria longa. Tomaríamos um comboio que, partindo da gare de Nice, contornaria o restante da Riviera Francesa, passaria pela Riviera Italiana e nos deixaria em Roma.

Adieu France! Au révoir!

Por algum tempo. A ela ainda retornaríamos, pelo norte, dentro de algumas semanas.

 

 





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