Dia de Lucas, o Médico


Foto: Bezerra de Menezes que, segundo alguns, seria uma reencarnação de Lucas/Intelitera.blogspot.com

Desde o tempo em que era apenas um menino já sentia em seu âmago uma angústia muito grande ao ver alguém sofrendo as dores do corpo, as dores da alma.

Nascido grego, nascido escravo, nascido de pais escravos de nobre família romana, com eles conviveu e aprendeu as lições de vida e de amor que o acompanharam em sua peregrinação na incansável ajuda ao outro e à outra.

Ele era Lucano, um perpétuo inquiridor a um desconhecido deus, em perpétuo ódio a um desconhecido deus que permitia a dor e o sofrimento, uma perpétua mente cheia de amor a distribuir pelo mundo.

Lucano mergulhou de corpo e alma nos templos da sabedoria de Alexandria, Egito, templos de sabedoria que aglutinavam todo o conhecimento humano de uma época. Lá ele penetrou na arte e na ciência médica. Arte e ciência médica transmitida também por sábios e mestres vindos de além mar, do grande continente asiático.

Conhecimentos aliados a uma energia interior que o dominava tornaram-no um médico a levar a cura nas mãos e na alma.

Era um tempo onde o mais importante era ouvir o doente e examiná-lo com todos os sentidos. Apenas com os cinco sentidos. E chegar, então, ao âmago do inimigo destruidor de células destruidor de tecidos, destruidor de órgãos, destruidor de vísceras, destruidor da vida. E chegar ao âmago do inimigo e eliminá-lo com a energia da gota milagrosa extraída das plantas, extraída da terra.

E quando a visão retornava a um olho arrebentado por malévolas mãos, quando sumiam as chagas que cobriam membros e faces desfiguradas pela hanseníase que grassava sem cessar, quando a peste negra eliminada era dos escravos dos porões dos navios ele apenas sorria, crendo que errara o diagnóstico.

Porque de suas mãos emanava a completa cura de um ser agonizante, a completa cura de uma doença para a qual não deveria e nem poderia haver cura.

E assim Lucano passou grande parte de sua vida, peregrinando pelas costas do Mediterrâneo, de porto em porto, de vila em vila, devolvendo a saúde e a vida a tantos seres miseráveis a quem ele jamais abandonou.

Vivia na simplicidade. Não habitava suntuosos palácios, não viajava em confortáveis e exclusivos e luxuosos barcos. Alimentava-se frugalmente e num simples catre jogava seu corpo para o repouso após intensa jornada de trabalho.

Um dia Lucano descobriu que o deus desconhecido existia. E tinha um nome. E tinha sido Homem. Foi quando ele chegou à Galileia. Foi quando conheceu os seguidores desse Homem. Foi quando conheceu a Mãe desse Homem. Foi quando conheceu os ensinamentos desse Homem. E foi então que aceitou a dor e o sofrimento que julgava ser algo enviado por aquele deus desconhecido a quem tanto odiou por tirar de seu convívio, tão precocemente, os seres a quem ele mais amara.

E tornou-se, então, um dos seguidores desse Homem, que era Mestre, que era Deus, desse Homem, desse Mestre, desse Deus que ele não conheceu, de cuja vida não partilhou. Mas de quem os ensinamentos e atos divulgou. Pelo Evangelho por ele escrito. Pelas páginas mais eruditas que contam da passagem de Maria e de Seu Amado Filho pelas mágicas terras do chamado oriente próximo.

Apelidaram-no de Luca e o conhecemos como Lucas, Médico e Apóstolo. Lucas, Médico de homens e de almas.

Poucos são os predestinados que, como ele, têm o dom de curar aliado a um profundo conhecimento e intenso estudo. Porque a maravilha que dele fez aquele médico excepcional foi o nunca acreditar em seus próprios milagres e a continuar procurando o aperfeiçoamento, aprofundando-se em livros e seguindo as lições dos sábios.

Mas era um tempo em que se aceitava também e apenas o alívio para o sofrimento, quando a cura se fazia impossível.

De lá para os nossos dias estende-se infindável abismo …

Aceitar um diagnóstico formado e firmado apenas por um exame clínico, tornou-se algo obsoleto.

Necessário hoje é adentrar-se nas mais modernas máquinas e nos mais maquiavélicos exames para tentar a descoberta da infame célula causadora do sofrimento e da dor.

Necessária é a busca cada vez mais intensa e mais dispendiosa para a milagrosa pílula, a milagrosa gota que evite o mal. Necessária é a incessante busca pela milagrosa pílula, pela milagrosa gota que cure o mal.

Digladiam-se, hoje, na mesma arena, os que procuram a cura e os que a cura oferecem.

Sempre houve rusgas entre facções inimigas e até entre membros de uma mesma facção. Mas o triste é o ver e o perceber o quanto as rusgas atingem os que procuram a cura ou o amenizar da dor.

O triste é o perceber que a cura e o amenizar da dor está medido em quilates de ouro e diamante.

O triste é o saber que se incute na mente de quem está em busca da cura e do alívio para a dor, que só no mais caro, no mais moderno, no mais equivalente ao ouro e ao diamante será encontrada a salvação.

Então eu me volto para Lucano, Lucas, o Evangelista, o Médico de Homens e de Almas para que sua mão volte a trazer a Paz nesta ensanguentada arena de onde queremos emergir.

Dedico ao Médico-Lucano que existe dentro de cada médico e que seja sempre ele o que emergirá em frente ao outro, em frente à outra que, súplice, procura o alívio para um corpo que sofre, para uma alma que chora.

 

“Médico de Homens e de Almas” é o título traduzido para o português do original “Dear and glorious Physician” um romance da escritora norte-americana Taylor Caldewell.

 

 

 

 





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