Autora fala sobre quinto livro de sua lavra
Li por aí que é fácil escrever um livro, o difícil é vendê-lo.
Longo é o caminho desde a última linha escrita até as estantes das livrarias.
Contar histórias, vívidas e fantasiadas. Viajar por alguns espaços reais e vaguear por mundos imaginários. Contar passagens de vidas conhecidas e divagar sobre pessoas que a mente vai criando… Jogar as letras sobre um pedaço de papel ou teclar alucinadamente para formar textos na tela do computador.
Fácil, muito fácil para quem gosta e neste mister transforma sua vida.
O difícil, o demorado, o emaranhado começa no instante em que se dá por finda a obra. Procura-se um bom professor de língua portuguesa que irá encontrar os nossos deslizes e corrigi-los.
Aguardar que o amigo diagramador, até hoje o incansável Edinei Wassoaski, tenha tempo e disposição para formatar o conteúdo.
E outras revisões fazem-se necessárias. E mais outras.
Ideias de uma abstrata capa que perambula em minha mente tento passar ao meu amigo e confrade artista Pedro Penteado do Prado. Que coloca seus pincéis e suas tintas para enfeitá-la. Parte ele da estação de minha vila seguindo os trilhos que me levaram a cinco destinos distintos do mundo.
E sobre os trilhos, na contracapa esta preciosidade de texto, que tanto me inebriou, escrito por nossa Confreira e amiga Sinira Dâmaso Ribas, autora já consagrada de várias obras literárias, Professora e membro da Academia de Letras do Brasil – Canoinhas.
“A escritora em suas andanças aumenta consideravelmente seu acervo de recordações e nesta bela obra sobre suas viagens, mostra-nos dias inigualáveis nos quais tanto viu, tanto ouviu e tanto viveu.
Viajamos não só com o corpo e a alma, mas banhando e deslumbrando o espírito com as belezas e o novo que se aprecia.
Cenários reais ou imaginários induzem a reflexão, estimulam fantasias.
Esta magnífica narrativa de Adair nos deslumbra pela incrível descrição de belezas naturais, campos, rios, lagos, bosques, relevos, cidades e remete-nos ao entendimento da cultura e da geopolítica dos países por onde andou.
Adair, com magistral capacidade de transformar em palavras a magnitude do que viu nos brinda com uma obra encantadora. Encanta-nos porque nos leva a lugares de extraordinária lindeza e exuberância. Encanta-nos porque nos tornamos viajores nas letras como ela viaja no espaço geográfico, na pena, nos vocábulos e nas frases que traduzem com maestria o que viu.
A notável escritora brinda-nos com aulas de Geografia, História e Economia num amálgama de aprendizado e puro lazer. Em suas palavras “Viajamos, em pensamento, no instante em que nos deparamos com belíssimas imagens de paisagens urbanas e rurais, de brancas montanhas nevadas ou paradisíacas praias tropicais. Nossa imaginação divaga e, por instantes, voa. Impressão de, em um minuto, flanarmos por infinitos páramos, sem destino e sem bússola, sem bagagem e sem documentos”.
Adair vagou pelo mundo, mas é grata por retornar ao lar onde mentalmente continua suas viagens, refazendo caminhos e revivendo emoções.
Bravos, escritora Adair Dittrich! Estamos no aguardo de novas incursões no universo da Literatura, onde se obtém a comunhão da palavra e da imaginação.”
Paulatinamente escrevia contando as peripécias de minhas viagens. Não roteiros, nem mapas. Coisas hoje em dia tão fáceis de se encontrar em um mero clique nos sítios de busca semeados pela internet.
Coloquei-os em Cinco Estações. Cinco momentos diferentes em minha vida. Cinco épocas distintas.
Dentro de alguns dias um carreto aportará no recanto encantado “Ninho da Coruja”, entregando uma tão esperada encomenda. Caixas com os exemplares de meu novo livro.
Como este ano foi apenas mais um declive, na rota que o nosso mundo descreve neste seu infinito rodar pelo universo sem fim, fico a imaginar este meu clube de felizes e sorridentes amigos aqui comigo a celebrar esta chegança. Desta vez estaremos todos apenas a imaginar. Virtualmente eu os convido a participar desta festa. Porque cada livro que vem a lume é como um novo filho que vem à luz.
É assim que, em Cinco Estações, apresento meu livro de número Cinco.
Desde criança o sonho de conhecer a Argentina. Sempre a ouvir as estações radiofônicas da capital portenha parecia-me já estar caminhando por aquelas ruas. Minha madrinha Elfrida Olsen, que lá residia, enviava-me revistas que contavam de suas belezas e atrações.
Logo que ingressamos na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná, alguns colegas começaram a idealizar uma viagem de fim de curso, tendo a Argentina como um dos destinos. Era um dos meus sonhos a realizar-se em breve. Em meados do ano de 1958, ano de nossa formatura éramos dezoito felizes formandos a embarcar em um avião rumo ao Paraguai, Uruguai e Argentina.
Imaginava eu, logo depois de formada, que não tardaria muito para conhecer a Itália, terra de meus Nonnos Pedro e Thereza Gobbi. Sonho que somente pode ser realizado 28 anos mais tarde, como eu conto em meu livro ‘A Europa pelo meu olhar”.
Mas, algumas andanças sempre foram possíveis para fora de nosso país. Por longos anos a fio, participando de jornadas e congressos e cursos de Anestesiologia, a especialidade médica que abracei, capitais e belas cidades de minha terra eu pude conhecer. E não sobrava tempo para viagens outras, para o exterior, de puro diletantismo.
Mas houve uma ocasião em que não resisti ao convite de um casal de amigos que iriam aos Estados Unidos da América do Norte. Consegui deixar minhas lides de lado, com certa preocupação até. Achava que, se não fosse uma viagem de estudos, não estaria certo. Ledo engano. Consegui, pelo menos alguns dias, para observar um serviço de anestesiologia em Charleston. E assim não me senti tão fora de meu local de atuação. No correr dos dias consegui desprender-me dos laços que me prendiam à minha profissão e pude relaxar, aproveitando, in totum aqueles maravilhosos dias, desde Miami até Montreal, no Canadá.
Dois anos após eu já me encontrava sobrevoando os Andes. Em companhia do Professor de Anestesiologia, Dr. Danilo Freire Duarte e sua esposa Laura, demos uma esticada em Lima, no Peru, antes de nos dirigirmos a um Congresso Boliviano e Latino Americano de Anestesiologia, em La Paz.
Cuba era outro sonho desde a adolescência. A tão falada e comentada Cuba em glamorosas revistas ou como palco de muitos filmes, parecia-me um paraíso. Após a ascensão de Castro ao poder o sonho desvaneceu-se. Mas alterna-se tudo no mundo. Eis que minha sobrinha Tereza Jürgensen opta por fazer seu curso de medicina na encantada ilha do Caribe. E para a sua formatura para lá embarcamos. Foi uma aventura inigualável. A receptividade e alegria com que o povo cubano recebe visitantes, aliado ao custo de hospedagem, alimentação e transporte muito inferior ao de outros destinos, no mesmo mar caribenho, faz com que eu continue sonhando em breve para lá retornar.
Eu já havia passado por Verona, cidade natal de minha Nonna Thereza, em duas ocasiões. Passado apenas. Por poucas horas. Quase nada do muito que Verona tem a mostrar eu vi. Piacenza, a cidade de meu Nonno Pedro Gobbi nem por perto eu passara.
Não sou adepta de entrar numa viagem com um pacote pronto. Prefiro escolher meus itinerários. Sabendo, no entanto, de minhas limitações nestas alturas da vida, tentei, sem êxito, um roteiro pronto que me deixasse, pelo menos, três dias em cada uma destas duas cidades. Nada. Optei por desembarcar em Milão e seguir em carro até Piacenza. Pensei que seria fácil um trem direto dali para Verona. Só com transbordo. Ou em Milão ou em Bologna. Novamente tive de me decidir por um carro que me deixou, ainda de dia, na terra de minha Nonna Thereza. Naquela tarde, pude ainda desfrutar de muitas horas em Verona.
A partir de Verona acompanhei um grupo, em ônibus, que nos levaria até Roma, passando por uma rota muito linda, tendo, primeiramente, a Laguna de Veneza e depois as encostas dos Apeninos.
Viajar com um grupo de turismo tem as vantagens de não nos preocuparmos com reservas de hotéis, com correrias para tomarmos ônibus e ou trens e nem com nossas malas, além de todos estes incômodos que giram em torno de uma viagem.
Em compensação, preciso é que se tenha fôlego e físico de atleta para acompanhar as correrias dos guias de turismo através dos locais pré-estabelecidos para visitação.
Por isto a eterna brincadeira de que tudo se vê pelas janelas dos ônibus, que as vértebras cervicais ficam tinindo de tanto se alternar o rosto para ambos os lados das ruas e das estradas.
Feliz eu fui e feliz eu sou em ter podido saborear um pouco das delícias de uma pequena parte do mundo.