ADAÍR DITTRICH: E mais uma vez Isis


Foto: Reprodução da página do jornal Correio do Norte/Reprodução

Existem épocas na vida em que o mergulho no passado torna-se necessário como um martelo de água que incessantemente bate. E em outras ele aflora assim, de repente, sem pedir permissão, nadando incólume até em turbulentas águas.

Estamos todos ainda flanando no espaço, estendidos em maciços de nuvens, saboreando a instalação de nossa Academia de Letras que, por caminhos pouco ou nada percebidos aconteceu quando chorávamos a saudade de Isis Maria Baukat, a Patronesse da Cadeira número Onze e que há trinta anos, antes de nos deixar, já tinha este sonho.

“Estilo Nosso”, com a dedicatória: Do “Povoado de Amigos” para VOCÊ, no Jornal “Correio do Norte” já na edição seguinte ao dia de sua partida chegou ainda uma vez com mensagens para homenageá-la.

E é de lá, daquele passado que aflora incólume, sem pedir permissão, que eu pinço alguns pedaços.

“ESTILO NOSSO” chega ainda esta vez ao seu NORTE, CORREIO de muitos.

                Chega cansado pelas andanças tantas.

                Chega de mansinho, pés descalços, pisando macio. Que é para não acordar quem dorme… que é para não incomodar quem sonha.

                Chega triste, sofrido, por não encontrar a maneira de chegar.

                Palavras hoje aqui jogadas, sem aquela harmonia e cadência com as quais nos acostumamos nesses meses poucos de convívio imenso.

                Mas, aqui estamos para esta homenagem, cientes de que nada do que será escrito terá o mesmo sabor se por ela tivesse sido.

                Ela, “de nome Isis, também Maria e ainda Tack e depois Baukat”.

                Foram bem poucos os parágrafos não enfeitados pela sua pena de gênio.

                Hoje, mesmo aqui, estamos em busca das frases dela para um toque que retoque o nosso emaranhado parafrasear.

                Pois é, Isis, o plá da Semana é para você.

                Você, que começou a semana ao lado de amigos que a esperavam lá, após Travessia… como disse Sue Meister… Vinicius, Cecília Meirelles, Elis… Clarice Lispector…seu Luiz…

                                                               —///—

                E as rosas amarelas não vieram e gostavas tanto delas, mas não mais que de tantas outras coisas maravilhosas que somente o teu olhar e os teus sentidos captavam e agora encontras nos páramos azuis para onde foste levada naquele cavalo alado…

                E repito o que escreveste: “Eu te busquei e te encontrei igual na altura e na profundidade. Eu te encontrei num verão amigo de ternuras cheio. Eu te encontrei na ponte que construímos juntas para a celebração do Fraterno”…

                “Hoje, quando o adeus se faz não querido, mas necessário, eu te digo que nunca estaremos separadas porque o vínculo da ternura em nós permanecerá”.

                                                                                                                                                             Adair

E o último recado de Baby para ela:

Não pude acreditar, Menina, que, há sete dias te despedias de mim para sempre. Acreditei ser algo apenas para ser pensado e que logo, logo eu leria as tuas maravilhosas mensagens em outras folhas pelai.

                Eu, Baby, um plural multiplicado em infinitos nós que somos todas e todos os que te liam em toda semana e a semana toda se passava em compasso de espera, expectantes dessa maciez que fluía tão fácil do teu “eu” para o papel.

                E agora estamos órfãos de teus escritos… de teus rabiscos…

                Mas não há de ser nada, Menina, não há de ser nada; eu tenho certeza de que muita coisa tua ainda existe, arquivada, em gavetas, nos mais remotos cantos da vida.

                Já reconheci teu estilo em poemas assinados por gente reconhecidamente poeta. E não negaste que eram teus quando a ti os mostrei. Apenas sorriste, com aquele sorriso giocondano… que sabias ter no momento certo.

                Menina, quanta coisa me disseste aqui mesmo, nesse mesmo lugar. E quanta coisa eu sei de ti. Quantos poemas inacabados…

                …eu sou aquele menininho cego que mora num horizonte perdido lá aonde a água chega primeiro logo às primeiras chuvas. Ninavas-me, lembras, quando eu, doente, cativeiro estive da dor e de teus braços entre as brancas e tristes paredes do hospital? Querias que eu olhasse pelos teus olhos… Depois… quantas vezes chegaste a minha casa trazendo um “rancho” que dizias mandado pelo Pai que está nos Céus?

                Eu sou esse cidadão nascido nessa Canoinhas-beira-rio que ansiava por uma tarde de domingo com algo mais que enlatados televisivos. E me acenaste com a possibilidade de ver e ouvir música, canto, dança e quanta coisa mais de Arte pudesse aparecer.

                Eu sou aquele estudante que te conheceu há tão pouco tempo, quando fizeste a ronda mágica por nossos colégios e nos atraiste para contigo formarmos uma frente de Arte a espalhar nosso planalto ao litoral e serras e vales outros.

                Eu sou aquele viajante que aliviou seu coração muito mais quando leu o que escreveste do que pelo todo que viu em outras terras.

                Eu chorei quando me contaste do amigo distante deitado em vitórias-régias… e me aqueci contigo nos imaginários casacos de carneiro das lareiras acesas nos Shagri-lás da vida. Contigo ouvi Beethoven, Chico, Chopin, Caetano, Maria Lúcia Godoy, Elis,Vinicius, Mercedes Sosa, Beatles, Gal, Rolling Stones, Joan Baez…

                Aceitei o “Sopro do Fraterno” e encontrei o “Instante de ternura entre o ir e o vir, entre o bom dia e o boa noite”. Eu sou “Bebê-Baby que conheceu a face de um desamor bem grande”, com “Mágoas vertendo pelos poros numa desesperança de tudo”.

                Eu sou “baby-cigano” do carnaval e verão que se emocionou com teu lírico poema em prosa, dessa batucada da vida e esqueci “o vício de chorar a dor antiga de meu povo”.

                Dizias:

                “não há torres de cristal, redomas. Estamos expostos ao sol e aos ventos, às rajadas cortantes da viperina língua, ao dedo em riste das sentenças injustas, mas também ao doce e sagrado direito de chorar”.

                Permita que façamos um “Baby-livro” com todos os fragmentos que criastes com Baby?  Porque, Menina, tu nos pertence com teus “poemas loucos, teus poemas poucos, teus poemas roucos”. Porque somos “Baby” que girava e girava em torno de teu eixo imaginário, eixo de sonhos, mas de magnetismo tão vibrante que de tua órbita não conseguíamos sair.

                E, entre tantos recados teus, encontrei:

                “Claro! Há um azul de Céu sobre todas as cabeças dizendo de voos sempre possíveis. Sempre, sim, a menos que sejamos o pássaro de asas podadas, recalcado em sua ânsia de infinito. Vivi sempre por antecipação. Em andanças aladas. Mas há um tempo para tudo. E os sonhos já não aquecem a realidade dura. Espalme as asas, Baby, você que ainda não conheceu o tempo da poda. Há sempre um mundo por fazer nas altitudes mais longínquas”… ”……..”

                E é para essas altitudes mais longínquas que alçaremos também o nosso Voo, algum dia, para te encontrar em alguma estrela…

                                                                                                              BABY.

 

 





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