A água vai faltar? E agora?


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Dezenas de pequenas práticas indicam como a natureza é generosa

 

Frequentemente, visito propriedades rurais, onde as dificuldades promovidas pela carência de água levou os proprietários a desenvolverem estratégias engenhosas, inspiradas na lógica da natureza. O sucesso de tais iniciativas às vezes é tanto, que de áreas com carência de água, as propriedades passam a áreas “produtoras de água”.

 

 

 

Práticas como simplesmente isolar áreas com maior tendência à umidade (pequenos banhados quando chove) com o uso de cercas que permitam a regeneração da vegetal natural, promovem verdadeiros milagres no retorno da água nas propriedades. Outras vezes, a construção de vários pequenos açudes, que aproveitam a água da chuva, a água dos terraços nas lavouras e até mesmo a água desviada das estradas, faz com que esses reservatórios sirvam de locais de recuperação de nascentes, que voltam a brotar.

 

 

 

Em uma propriedade em que o poço estava baixando tanto, que qualquer estiagem faltava água, o problema foi resolvido com uma pequena barragem de pedras em um córrego. Com a barreira, mais água passou a ser conservada e o lençol freático subiu, evitando novas secas do poço.

 

 

Dezenas de pequenas práticas indicam como a natureza é generosa e nos oferece chances de recuperar o artigo mais valioso das nossas propriedades: a água.

 

 

 

 

O paradoxo dessa situação é que a água, um bem tão valioso, só é realmente valoriza quando falta. Sua abundância é vista, muitas vezes – mais vezes do que eu gostaria de já ter presenciado – como um empecilho.

 

 

 

 

Recentemente, estive em uma propriedade rural da região, para tentar solucionar a questão da falta de água para o gado. A cena que novamente me deixou perplexa, foi a da extensão do desmatamento na área da fazenda vizinha, inclusive em área de preservação permanente (APP). “Área consolidada” perante os novos decretos, disseram alguns proprietários. A inevitável conseqüência? A falta de água nas propriedades do entorno do desmatamento.

 

 

 

Em algumas situações, o desmatamento foi realizado em áreas de nascentes ou pequenos córregos e o material desmatado foi utilizado para “enterrar” as fontes de água. “Para aumentar a área de plantio”, também me respondem alguns. “Para facilitar o trabalho das máquinas”, me respondem outros…

 

 

 

E assim, nessa normalização do anormal, centenas de nascentes foram desaparecendo ao longo do tempo e levando consigo o abastecimento de pequenos córregos, riachos e de nossos rios, apesar da ilegalidade.

 

 

 

E essa realidade não é “mérito” da nossa região. Posso afirmar, inclusive, que o Planalto Norte é uma das regiões com maior conscientização sobre a preservação da água. Quanto mais seguimos para o Oeste seja de SC, do Rio Grande do Sul ou do Paraná, ou “subimos” para São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, há regiões em que a realidade da falta de água é atual e urgente!

 

 

 

E mesmo assim, seja nas políticas públicas ou no desenvolvimento humano, a maioria das pessoas não consegue relacionar a crise hídrica que estamos passando com a destruição das áreas de APP de nascentes e cursos d’água.

 

 

 

 

Só para terminar e refletirmos um pouco, quem de nós, com mais de 50 anos não se lembra de um riozinho, um tanque, uma cachoeira em que brincava quando pequeno e que ou não existe mais, ou está assoreada ou está tão baixa, que mal permite um banho? Isso em 50 anos? O que falta para a sociedade, como um todo mudar de mentalidade sobre a importância da água na nossa vida?

 

 

 

Por que, ao invés de continuarmos tentando punir ou fingir que as infrações não são vistas, não começamos a mudar e criar políticas públicas e ações sociais que valorizem aquelas propriedades que preservam, que recuperam, que “produzem” água. Com certeza, os ganhos seriam muito maiores para todos nós. Fica a dica. Quem sabe daqui a 50 anos tenhamos mais rios, tanques e cachoeiras que deixem muitas pessoas felizes, como nós fomos um dia.





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