100 ANOS DA COMARCA: Há 80 anos, três tiros vitimavam juiz da Comarca de Canoinhas


Em foto do arquivo do jornal O Globo, Almeida Cardoso aparece com a esposa e a filha mais velha, Maria Thereza

Série de reportagens do JMais mostra histórias curiosas e julgamentos peculiares da centenária comarca

 

A noite de 16 de abril de 1933 era mais uma típica de domingo em Canoinhas. O pequeno centro ganhava movimento por volta das 20h, quando em fila a plateia aguardava a entrada no Cinema. Era Domingo de Páscoa.

O centro voltava a ficar movimentado as 22h, quando o clássico The End surgia na tela. Sem mais o que fazer, aqueles que não gostavam de baile (outra atração típica de domingo à noite, hoje perpetuada pela SBO) se dirigiam as suas casas e dormiam o sono dos justos. Era assim, até aquela noite. Juiz da comarca, Dr Francisco de Almeida Cardoso, hoje nome de rua, deixou o cinema com a esposa, Vera Ferreira Coutinho, as duas filhas, Maria Thereza e Sandra, e o primo, Otávio Barboza, que visitava a cidade.

Na rua Vidal Ramos, onde ficava a casa da família, recebeu três tiros pelas costas. Um atingiu sua coluna vertebral. Os outros dois, em regiões próximas, um deles perfurando seu pulmão.

Dr Osvaldo de Oliveira, um dos mais célebres médicos da cidade, ainda tentou salvar o amigo, que precisou ser levado às pressas à Santa Casa de Misericórdia, de Curitiba, já que não havia estrutura para atendê-lo em Canoinhas.

Na capital paranaense, depois de oito dias de agonia, Almeida Cardoso faleceu.

 

INQUÉRITO

Policiais da capital paranaense desembarcaram pouco depois em Canoinhas a fim de elucidar o caso. O próprio chefe de Polícia do Estado veio para a cidade.

Osvaldo de Oliveira chegou a prestar depoimento acusando as próprias autoridades políticas catarinenses da emboscada ao amigo. Segundo ele, por não se dobrar as imposições políticas, Almeida sucumbiu. Dois fatos antecedentes corroboram com a teoria do médico. No dia 3 de abril, o Cartório Eleitoral da comarca, que funcionava na casa de Benedito Therezio de Carvalho Junior (avô do vereador Bene Carvalho), foi incendiado. No mesmo local funcionavam o tabelionato da cidade e a chamada ‘escrivaninha do crime’. O fogo foi contido a tempo de causar grande estrago.

Outro fato relevante é relatado pelo historiador Fernando Tokarski. “Sabe-se que invadiram o Fórum e retiraram o retrato do Almeida Cardoso da parede e picaram de bala em plena via pública”, conta.

Enquanto o primeiro fato foi ligado à rivalidade política entre o PSE e o PRC, os dois únicos partidos à época, o segundo foi apontado entreouvidos como uma retaliação passional.

O inquérito que se seguiu foi duramente criticado pelo juiz Oscar Leitão que, em despacho de pronúncia dos acusados, se mostrou admirador de Almeida Cardoso. “A peça que serviu de base à denúncia é, no fundo e na forma, um documento falho por completo”, anotou. Foram ouvidas 40 testemunhas, mas, para o magistrado, as consideradas chave, foram excluídas do inquérito.

Principal acusado, Ricardo Stocker fugiu tão logo confessou o crime.

Outros dois homens foram detidos suspeitos de terem sido comparsas do assassino.

Na sentença, no entanto, apenas Stocker, então recapturado, foi condenado. Porém, jamais cumpriu a pena. Ele fugiu para o Mato Grosso do Sul, retornando anos depois a Canoinhas, já velho e debilitado. Morreu pouco depois.





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